Uma das atrações para quem visita Sintra é entrar na Pastelaria mais antiga da Vila para provar esta iguaria tão tradicional. Um doce regional secular, cuja origem remonta ao século XIII, ao reinado de D. Sancho II. Até meados do século XVIII, as queijadas eram de fabrico caseiro e serviam também para pagamento de foros, passando depois a ser fabricadas, até aos dias de hoje, a sua industrialização teria começado em 1756, nas destacadas fábricas de queijadas: Sapa, Gregório, Piriquita , Casa do Preto, e Dona Estefânia situadas na Vila de Sintra.
As queijadas de Sintra são provavelmente o mais antigo doce da gastronomia sintrense, eternizada até na literatura portuguesa.
"Ega ia largar atarantadamente o embrulho, para apertar a mão que Maria Eduarda lhe estendia, corada e sorrindo. Mas o papel pardo, mal atado, desfez-se; e uma provisão fresca de queijadas de Sintra rolou, esmagando-se, sobre as flores do tapete" in "Os Maias", Eça de Queiroz
A origem e a história das deliciosas Queijadas de Sintra, imortalizadas no romance "Os Maias" de Eça de Queiroz, perdem-se no tempo, mas pensa-se que estas pequenas tartes feitas a partir de queijo fresco, açúcar, ovos, farinha e um pouco de canela e depois envolvidas numa massa crocante e estaladiça já eram produzidas na região durante a Idade Média.
As excelentes pastagens de Sintra permitiam o fabrico de queijo fresco e era comum o excesso de queijo ser usado para confecionar estes doces, que depois podiam servir aos camponeses como forma de pagamento.
A Lenda
Conta-se que o rei D. Manuel I e o seu estribeiro-mor, se teriam perdido em plena serra de Sintra, em certo dia, em que estariam a caça do javali e da corça.
Da embaraçosa situação em que se encontravam, tê-los-ia ajudado um vendilhão de Colares que os orientou ate um lugar onde pudessem acolher-se, o mais dignamente possível, para pernoitar onde lhes fosse servido um repasto, tão desejado, sendo já hora tardia, já que se haviam frustrado as perspetivas da ambicionada caçada.
O lugar escolhido foi o Mosteiro da Pena, cujo prior, colhido de surpresa, teria esgotado os recursos das orações suas conhecidas, para que o Senhor lhe valesse em tão inesperada situação.
O alojamento para sua alteza real não tardou a ficar pronto, pois dar solução a essa necessidade cabia nos recursos de um bom prior. Mais difícil era improvisar uma refeição, dados os parcos recursos do mosteiro e a situação imprevista.
Apressou-se o prior a apresentar o que tinha: umas queijadinhas, e foi-se desculpando por não ser manjar digno de nobres e muito menos de um rei, já que eram destinadas a gente humilde.
Certo é que o rei estaria àquela hora da noite, predisposto a comer o fosse, mesmo aquelas queijadas doces, de que nunca ouvira falar. E apressou-se a dizer que sim, e vieram as queijadas.
O rei e o estribeiro-mor causaram o maior assombro ao bom prior, porque não so comeram como repetiram a dose de queijadas, engolindo-as sem maneira fidalgas, não hesitando em lamber os dedos e dar sumiço a quantas migalhas havia no prato.
Prodigalizaram os maiores elogios as queijadas e quando na manhã seguinte deixaram o mosteiro, agradeceram ao prior, não esquecendo de pedir a receita, e a partir desse dia passou a ser, no Palácio Real, apreciado como manjar incluído nas ementas.
Fonte da Lenda: "Sintra Lendária" de Miguel Boim
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