A 5 de outubro de 1910, a Monarquia portuguesa terminava com a implantação da República. Contudo, o processo de descrédito da Monarquia tinha raízes anteriores. O endividamento externos, a crise financeira, o aumento de impostos, a questão dos adiantamentos á Casa Real e a ditadura de João Franco constituíram fatores de descredito da Monarquia Constitucional.
Os constantes problemas económicos levavam a aumentos de impostos e a população manifestava-se em revoltas, como é o caso da da Janeirinha em 1868. Nenhum dos partidos parecia oferecer soluções – eram, aliás, muito idênticos e não tinham princípios ideológicos claros que os distinguissem. Pairava no ar a sensação de que o caciquismo e a corrupção reinavam, o que garantia espaço a uma terceira alternativa no poder.
As constantes intervenções dos monarcas que precederam 1910 também não ajudaram. D. Luís e D. Carlos recorreram amiúde à dissolução do parlamento, forçando eleições, mas as mudanças nunca resultavam e apenas descredibilizavam o sistema político português.
A 11 de janeiro de 1890, a lança um ultimato a Portugal, uma nota entregue ao Ministro dos Negócios Estrangeiros português pelo Embaixador de Inglaterra em Lisboa (Mr. Petre), onde era exigida a retirada das expedições militares portuguesas das regiões do continente africano, entre as suas colónias africanas de Angola e Moçambique, que se encontravam sob "proteção britânica". Portugal acedeu ao pedido britânico, embora protestando. Esta cedência do rei causou revolta.
A concessão de Portugal às exigências britânicas foi vista como uma humilhação nacional pelos jovens estudantes. O Rei D. Carlos foi acusado de “britanismo” e de subjugação aos interesses ingleses.
No último quartel do século XIX surgiram dois partidos que incentivaram o descontentamento da população. Assim surgiram os Partidos Republicano (fundado em 1883) e Socialista. O Partido Republicano defendia a implantação da República, uma descentralização política e económica e a dinamização do poder local. Na óptica dos republicanos, só um verdadeiro governo baseado nos ideais liberais da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – podia responder aos problemas do país. Já o Partido Socialista criticava a sociedade capitalista e a não-aceitação da propriedade privada dos meios de produção. Ao mesmo tempo, a imprensa portuguesa atingia o seu auge, e como o jornalismo estava maioritariamente na posse dos republicanos ou de monárquicos crescentemente descontentes com a política em vigor, a Monarquia era fortemente criticada.
Os problemas agravavam-se no reino. Circulavam rumores acerca dos extravagantes gastos a que a Família Real se entregava, nomeadamente a rainha D. Amélia. O rei Carlos I não transmitia melhor imagem, com a sua fama de esbanjador e as suas aventuras amorosas transformavam a figura real numa anedota que se desprezava com gosto. Tudo isto só favoreceu o crescimento de popularidade dos Republicanos.
Em 1906, D. Carlos dissolve o Parlamento, e entrega uma maioria de poderes ao mesmo João Franco, que governa de forma autoritária o país.
A revolta espalhou-se, então, por Lisboa, um milhar de pessoas percorreu as ruas da capital, em protesto à “submissão” nacional”. O governo foi obrigado a demitir-se e foi criado o hino “A Portuguesa”, da autoria de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça, apelando à revolta dos portugueses em nome dos seus antepassados.
O Regicídio
À acção política dos Republicanos, junta-se o músculo da Maçonaria, uma sociedade secreta, e da Carbonária, outra sociedade secreta fundada por operários e com uma ideia de acção mais violenta. Se o sistema não se muda por dentro, é necessária uma acção externa e extrema, defendem.
O acto decisivo aconteceu a 1 de Fevereiro de 1908, quando, após o regresso da Família Real do seu Palácio de Vila Viçosa – onde o rei tinha ido passar uns dias a caçar – uma saraivada de tiros atinge a carruagem real na Praça do Comércio, em Lisboa. D. Carlos fora avisado de que, dois dias antes, a Polícia impedira uma conjura para assassinar o rei e João Franco. Porém, o rei quis mostrar que nada temia e, para dar uma sensação de normalidade, avançou pela cidade com pouca escolta e tejadilho baixado.
Então, soaram disparos. D. Carlos foi imediatamente atingido no pescoço com um tiro de carabina. O seu filho e herdeiro do trono reagiu, disparando sobre os atacantes, todos da Carbonária. Acabou atingido também na face. D. Manuel, o segundo filho, foi ferido num braço. Uma das representações do regicídio da época mostra a rainha D. Amélia defendendo-se e à sua família com um ramo de flores.
Já depois da carruagem chegar ao Arsenal da Marinha de Lisboa, onde rei e herdeiro foram declarados mortos, encontraram-se no local do crime os corpos de Manuel Buíça e Alfredo Costa, homens de profissões modestas que ficaram como os algozes do rei. Os restantes membros da conspiração fugiram – a maior parte não foi nunca apanhada. D. Manuel sobe ao trono com o nome de D. Manuel II e o regicídio causa ondas de choque numa Europa maioritariamente monárquica.
A primeira medida do novo monarca foi demitir João Franco, enveredando por uma política de tolerância e abertura mas, mesmo assim, esta moderação na política foi incapaz de deter o republicanismo. O fim da Monarquia parecia inevitável.
Na madrugada de 4 de outubro de 1910, alguns populares e um pequeno número de militares revoltados, armaram-se, deficientemente, e foram até ao cimo da Avenida da Liberdade. As forças fiéis ao Rei, quer militares e civis, não mostraram interesse em defender o rei e as instituições monárquicas. O palácio das Necessidades, onde estava o rei D. Manuel II, foi bombardeado por alguns navios de guerra que apoiavam o movimento republicano. O Rei e a sua família saíram de Lisboa em direção a Mafra, onde no dia seguinte, partiram para a Ericeira onde embarcaram, rumo ao exílio.
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